Manicure que recorre à técnica artística do absurdo

Madrepérola não se usa desde 88. A excepção da classe profissional das catequistas solteiras, com mais de 44 anos e que fazem broas de fruta cristalizada em casa também acabou em 2003. No entanto, a manicure madrepérola (ou o prateado-platinado-reflexos-brilhantes) é ideal para o cultivo de bivalves, ensinaram-me duas aposentadas, uma de meia-idade, outra de idade completa. A sensação de que as unhas são pedra velha onde o mar esteve a rebentar umas boas 3 semanas e meia não é mera aparência: a manicure madrepérola, ou nail art calhau-ancião, em linguagem técnica, enrijece as unhas ao ponto da rocha e tem a propriedade de criar lodo sintético, quando bem monitorizada - igualmente nutritivo, garantiram. 

Estas senhoras que conheci num banco do C.C.Colombo estavam a aproveitar para manter um viveiro de crustáceos nas mãos. Entre as duas deviam ter já 1 kg de lapas, 329 gramas de percebes e uma mão-cheia de conquilhas da costa sudoeste do Nilo, que por ser mais pequena, rende mais.

Por norma, os salões de nail art mais próximos do CDB são aqueles onde a técnica é mais aprimorada e acredito que, nesse caso, a produção justifique o pedido de licença temporária de aquicultura. Num salão suburbano unisexo*, se lhe nascer um mexilhão na unha grande, parabéns, saiu-lhe a roda da fortuna.

Como colher os crustáceos em segurança? "Normalmente, evacuando" - isto foi erro. É do post sobre a Sara Norte.

Como colher os crustáceos em segurança? Normalmente, como se retira-se qualquer outro verniz: acetona, algodão e uma ponta-em-mola. Tenha sempre em atenção os períodos de defeso.

*Seria mais ortograficamente lógico unissexo? As pessoas que criaram esta palavra são as mesmas que nos ensinaram a dizer mortandela. Vamos respeitá-las.

Grandes comunicadores tratam-se pelo nome próprio. Manuel Luís, inevitável primeiro exemplo. Judite, tem o seu lugar.

Judite, nome da coragem e do anti-pequenismo em Portugal. Cores vivas e espírito vintage para comunicar os cortes da austeridade. Não me dói tanto ouvir que Passos Coelho acha inconveniente que a Constituição seja uma lei em vez de um livro de fiado porque estou distraída com o fogo-de-artifício que é o cabelo de Judite. Vai ser muito triste dar os subsídios ao Estado, mas estive uma hora e meia a ver como se conjuga o ciano com o creme escuro e o creme de marisco. E menta nos óculos. In a diva way. É por isso que a TVI é o meu serviço informativo de confiança - distrai-me mais. 

Com Judite, a redacção da TVI mudou-se para o cenário de Amantes Passageiros. Cores olhem-antes-para-mim, aura naif, joie de vivre. É lá que Judite se sente em casa.

Judite não é, além disso, só uma cara bonita da televisão nacional. Intelectual. Mantenha a dicção, minha querida. São traços de charme.

Não creio que seja bizarro ao ponto de pôr o entrevistado a rir na cara de Judite.

Judite sente-se mais à vontade em Olhos nos Olhos, o programa do cabo. A generalista vive da pressão das audiências e os canais temáticos tornaram-se lugares para os nichos e o bom gosto. Ali Judite pode ser mais Judite. Ela sabe que Mediana Carreira não censura. Ele mal abre os olhos.

Ontem como hoje. Sempre fiel a sim mesma. Obrigada, Judite.

Estaturas cada-um-é-como-cada-qual

É terrível o estigma que as sociedades desenvolveram em relação às estaturas que não se enquadram no padrão. Pessoalmente, cada um é como cada qual - adoro provérbios populares e falar com o povo, não sei, a voz do povo é a voz de Deus.

Ser muito magro é socialmente horrível, todos os nomes maus da vida não chegam. Mas ser gordo é pior. Depois de todas as humilhações associadas a suar imenso ainda se tem que usar C&A.

Minhas queridas super magras, é hipocrisia dizerem que sofrem. A Zara trabalha para vocês.

Agenda doida: 1º de Maio, descontos no Pingo Doce, tarde de cinema na RTP

Dia agitado, porém, sem pressas! Planeie o outfit. Os outfits. Tarefa exigente a da escolha, mas não se faça derrotada com o tradicional "tanta roupa, nada para vestir".

1º de maio - O 1º de Maio não é o mega-piquenique do Continente. Nem ofenda os seus camaradas trabalhadores com casacos à cintura e malas à tiracolo. Além disso, é um palco histórico de acontecimentos políticos relevantes. Não esquecer que em 1975, nestas celebrações, a cisão PS-PCP se adensava com Mário Soares a ser impedido de subir ao palanque pelo gang de Álvaro Cunhal. Quando presenciar a História acontecer, vai querer tirar foto e estar à altura de mais tarde recordar. A pose deve coordenar-se e não colidir com o acontecimento em fundo. Se uma bronca como a de Mário Soares estiver a acontecer, não sorria. Faça cara de preocupação social.

Pingo Doce-a-dar-o-que-tem - Acontecendo ou não amanhã, promoções ofensivas da condição humana podem nascer a qualquer altura no Pingo Doce ou em qualquer metro quadrado do grupo Jerónimo Martins. O acto de estar nestas circunstâncias é o que exige maior savoir faire. A simplicidade é complexa e difícil de alcançar. Recorra à meditação para esvaziar a sua mente e conseguir atingir o estado blasé. Fazer-se desinteressado pelo facto de poder levar tudo duas vezes pelo preço de uma é como chegar ao nirvana. Vista um blazer e vai parecer estar num nível superior.

Tarde de cinema na RTP - É triste assistir à crescente banalização da cultura em Portugal. Já ninguém se arranja para ir ao teatro e muito menos ao cinema. Não partilho desta forma de estar. Além de tudo, os momentos culturais, por frequentes que sejam, são sempre episódios de descontinuidade no dia-a-dia: aproveite para se valorizar e usar aquela peça extravagante que tem no armário. 

A tarde de cinema da RTP traz-nos bom cinema: Get Smart - Olho Vivo e Não Chamem a Policia!. Capriche. Aquela estola de pelo que nunca usa, aquele vestido comprido que acha ser sempre over the top ou aquele colar vistoso que pensa assemelhar-se a decorações do Natal de '97. Não tenha medo. Arrisque e mime-se. Deixe que a cultura lhe valorize a alma, valorize VOCÊ a sua auto-estima.

Neste dia, opte também pelo brunch.

Horóscopo

Carneiro - Carta II, A Papisa - Amanhã nasce para o animal print. Zebra, tigreza, girafa, leopardo, cobra e camarão. Em dias de normalidade aconselharia a conjugação de apenas dois, mas amanhã a sua lua alinha com Vénus e com a antiga União Soviética: conjugue todos. Nem todos os dias a sua aura terá o dom de aguentar conjugações tão ousadas, aproveite. Não se detenha com a falta de padronizados no seu armário: há lojas do chinês em todo o lado. Amanhã na selva da cidade, o carneiro tem a luz mais caprichosa.

What not to wear

Nem sempre o par outfit-situação é bem calculado. Grandes erros na análise das circunstâncias podem significar a experiência do ridículo ou do nosso próprio dano. A evitar, portanto. 

A caça aos terroristas de Boston encorajam-me a escrever sobre um tema recalcado do mundo da moda. Ninguém fala sobre isto, é uma pena. Só Deus pode saber as injustiças que este silêncio já causou. Esses dias acabaram.

Numa situação de busca policial intensa, NÃO USEM ITEMS COM TACHAS E SPIKES. São detalhes visuais que alertam para a possibilidade da perturbação do outro. Sim, quem usa está claramente perturbado, mas o fulcral é o outro. Historicamente, as pessoas que fazem uso de objectos pontiagudos são potencialmente invasores da integridade física alheia, são marginais, por vezes criminosos, roçam o terrorismo.Não será discriminação achar que uma pessoa que usa esse tipo de coisas pode retalhar outra, é só reconhecimento da capacidade técnica de metal pontiagudo.

Usar destas coisas no metro entre as 18H00 e as 18H15 também é démodé.

Coisas-que

Coisas que uso para tirar fotos para o blogue e que troco imediatamente numa casa de banho pública devido ao desconforto social ou meramente físico.

No Animecon posso ser eu.